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Os adultos trabalham. E as crianças?

O ciclo de trabalho de três horas

Ao longo de anos de observação em todo o mundo, a doutora Maria Montessori chegou a compreender que as crianças, quando deixadas em liberdade, exibiam um ciclo de trabalho distinto, tão previsível, que até podia ser registado. Este ciclo, observou ela, tinha dois picos e um vale e durava aproximadamente três horas. Nas escolas Montessori as crianças têm três horas de tempo aberto e ininterrupto para escolherem trabalhar de forma independente. É neste ciclo que elas dão o máximo de si, empenham-se profundamente e repetem as atividades tão simplesmente para a sua própria satisfação.

É mesmo assim, a criança trabalha sem parar por três horas aproximadamente dando uso à sua máxima concentração e esforço apenas por satisfação. Satisfação do quê perguntaríamos nós? Da tendência humana do trabalho. Existem várias tendências humanas observadas e registadas por Maria Montessori e mais tarde pelo seu filho Mario Montessori. Poderão pensar que ambos concordaram na mesma lista de tendências humanas mas não. Conto-vos esta história num outro momento.

Em relação a este ciclo de trabalho e à sua importância, escreveu Maria Montessori o seguinte:

“(…) a conclusão de todo um ciclo [de trabalho] exercerá uma influência cada vez mais profunda sobre a personalidade da criança. Não só é impulsionada para um trabalho de concentração íntima imediatamente após o seu esforço culminante como preserva uma atitude permanente de pensamento, de equilíbrio interno de interesse sustentado no seu ambiente. Ela torna-se uma personalidade que atingiu um grau de evolução mais elevado. Este é o período em que a criança começa a ser “mestre de si mesma” e entra neste fenómeno característico a que chamei “fenómeno da obediência”. Ela pode obedecer, ou seja, pode controlar as suas acções e, portanto, pode dirigi-las de acordo com os desejos de outra pessoa. Ela pode interromper um trabalho e quando o interrompe não mostra sintomas de fadiga. Além disso, o trabalho tora-se a sua atitude habitual e a criança já não pode suportar ficar ociosa”. (Dra. Maria Montessori, ‘The Advanced Montessori Method pg.81)

As crianças têm uma vontade natural de aprender. A partir do momento em que nascem, os bebés pequenos esforçam-se por se orientar e explorar as coisas do seu mundo. Chegam a um significado abstracto a partir de tudo o que experimentam, são levados a ser independentes e querem encontrar uma forma de comunicar com as pessoas à sua volta. São instados a manipular as coisas com as mãos para saberem o que são, a concentrarem-se na tarefa à sua frente e a repetirem coisas para que tudo o que fazem seja cada vez mais perfeito. Estes impulsos de desenvolvimento fazem todos parte do comportamento natural que os seres humanos levam consigo através da vida e que ajudam os bebés a desenvolverem-se e a adaptarem-se ao seu novo mundo. O trabalho é a ferramenta primeira de ajuda à independência e autonomia.

Observem os vossos pequenos e digam-nos, quando usam o seu ciclo de trabalho de três horas?

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